A cada dia que passa ficamos mais e mais curiosas sobre um tema que ganhou destaque entre as marcas de moda: auto-referência. Inicialmente achávamos que tratava-se apenas de uma estratégia para impulsionar as vendas em tempos de crise, destacando toda a herança da marca (chegamos a mencionar aqui tal estratégia, que visava abordar o conceito de heritage) e expondo-a como um clássico atemporal, acima do bem e do mal (e certamente das “tendências” que mudam de 6 em 6 meses), além de ressaltar alguns aspectos importantes que ajudam a formar sua identidade: caráter artesanal/feito à mão, exclusividade, tradição, etc.

Vitrine "Collection" da LV, na flagship store da Bond Street, em Londres. Essa foi uma das sete vitrines que celebraram a história, a paixão pela criação e o toque artesanal da marca francesa.

"Accumulation" é outro vitrine da mesma série e mostra bichinhos dentro de cúpulas de vidro, feitos com vários acessórios LV, como bolsas, cintos e chaveiros
Também abordamos o assunto no post sobre Chanel, afinal Karl Lagerfeld sempre afirma que nunca presta atenção no que outras marcas estão fazendo e as vitrines e cenografia dos desfiles da marca parecem confirmar sua postura: tudo remete ao universo de Coco Chanel e de sua maison, seus ícones e sua história. Basta pesquisar um pouco mais e conhecer melhor a história da marca para descobrir que Karl deve “respirar” os arquivos da maison todos os dias (clique aqui para ver um vídeo sobre as cenografias grandiosas dos desfiles da Chanel no Grand Palais, em Paris).

O carrossel da Chanel, durante um dos desfiles da marca: ícones Chanel no lugar de cavalinhos graciosos

O carrossel novamente, dessa vez na vitrine e na bijuteria Chanel
É claro que, de certa forma, além de celebrar a tradição da marca, a auto-referência ajuda na manutenção das suas identidade e imagem de três maneiras: primeiramente, a marca não corre o risco de se perder entre tantas “tendências” quando olha o seu próprio histórico, mantendo-se coerente (e se é sempre importante olhar para frente e pensar no futuro, é mais importante ainda conhecer muito bem seu passado para não criar produtos que não serão sucessos comerciais, pois os consumidores podem não enxergar seu DNA em nenhum deles e, assim, não associá-los à marca); em segundo lugar, agindo dessa forma, a marca não envia aos seus consumidores, assessores de imprensa, jornalistas de moda, entre outros, mensagens contraditórias, afinal tudo gira ao redor do seu próprio universo, seu histórico construído ao longo de anos, até décadas, o que também torna o controle sobre as informações na mídia mais fácil; finalmente, a auto-referência ajuda a reforçar a imagem da marca na mente dos consumidores, colaborando, também, para o seu reconhecimento como empresas marcadas pela originalidade (muito importante em tempos de derramamento de produtos inspired no mercado).
Devemos lembrar que a forte presença da auto-referência não exclui a conexão das marcas com o lifestyle do consumidor, nem com temas contemporâneos. Por exemplo, quem não se lembra da bolsinha Chanel de prender no tornozelo para a coleção de verão 2008? Foi uma clara referência às celebs hollywoodianas que viviam envolvidas com a lei e acabavam monitoradas para evitar consumo de álcool. Uma brincadeira de Karl com um acontecimento bem explorado pela mídia, a ponto de virar acessório de moda.

Lindsay Lohan e seu monitor que controla o seu consumo de álcool

Bolsinhas de tornozelo da Chanel que lembravam os monitores de álcool, usados por celebridades como Lindsay Lohan, Eve e Michelle Rodriguez
Estamos de olho para ver o caminho que essa história vai tomar!
Fotos: Iesa Rodrigues, HipGirlie, Hublon, ILVOELV, Moustache Me
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